Um professor de musculação e ginástica da rede de academias Smart Fit em Campo Grande MS), ingressou com uma ação trabalhista na Justiça do Trabalho, denunciando assédio moral organizacional, perseguição, injúria homofóbica e práticas vexatórias no ambiente de trabalho.
O caso está registrado sob o número 0024768-16.2025.5.24.0003 e tramita em uma das varas do trabalho da capital sul-mato-grossense.
O autor da ação, afirma que trabalhou na unidade Jardim dos Estados desde outubro de 2022 e relata ter sido alvo de discriminação e violência psicológica por parte da gerente Ana Carolina da Silva Matias e do diretor de operações da rede, Felipe Ribeiro do Carmo. A empresa RRI Jardim dos Estados Academia de Ginástica Ltda. e a matriz da SmartFit Escola de Ginástica e Dança Ltda. também são acusadas no processo.
Segundo o processo, já no início de sua contratação, ele recebia R$ 106,80 de auxílio mobilidade, valor inferior ao pago a outros colegas R$ 204,70 mesmo utilizando motocicleta para ir ao trabalho. Após reclamar, o valor foi corrigido, mas sem ressarcimento pelos 18 meses anteriores, segundo a denúncia. Eis um print da conversa sobre a regularização do auxílio mobilidade:
Ainda no processo, o professor relata que em janeiro de 2025, teve uma garrafa Stanley furtada dentro da academia. Ele identificou o autor por imagens de câmeras de segurança, mas afirma que a gerente não levou o caso a sério. Após registrar boletim de ocorrência, a situação viralizou nas redes sociais. A empresa, em vez de apoiá-lo, o acusou de quebrar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e começou, segundo ele, uma retaliação sistemática.
De acordo com os documentos, o professor teve suas aulas de abdominal que complementavam sua renda em cerca de R$ 600 mensais readas a outro profissional sem aviso prévio. Eis a prova anexada no processo:
Em seguida, ou a ser vigiado por outros funcionários a mando da gerente, segundo ele. Um dos trechos mais graves da ação envolve a reprodução de mensagens trocadas entre a gerente Ana e o diretor Felipe, adas pelo professor no computador da gerência, cujo uso era liberado a todos os colaboradores.
Em uma dessas mensagens, Ana chama o funcionário de "safado" e "viadinho da manhã", e pergunta ao diretor se deveria "ar a faca nele". Felipe responde: "Bota o macho pra trabalhar e arranca o couro dele". Em outra conversa, ele sugere tirar as aulas do professor como "melhor penitência" e diz: "dar um nojo, às vezes o vagabundo pede pra sair". Eis as provas:
Os diálogos, registrados por prints e vídeos, também mostram que ambos discutiram o cancelamento das férias do professor para prejudicar uma viagem programada. Quando ele finalmente saiu de férias, o pagamento não foi feito no prazo legal, o que o impediu de pagar o cartão de crédito e gerou novas dificuldades.
EXPOSIÇÃO PÚBLICA E HUMILHAÇÕES
A denúncia relata também que o professor foi obrigado a fazer exercícios de "penitência" por chegar atrasado. Em um dos episódios, foi filmado fazendo burpees em frente aos alunos, com o vídeo sendo compartilhado em grupos internos. Há também relatos de que, em fevereiro de 2025, todos os funcionários foram forçados a "rolar no tapete novo da academia" para testá-lo menos a funcionária de confiança da gerente, que aparece no vídeo rindo dos colegas.
Além disso, o professor afirma que a gerente obrigava funcionários a abordar alunos para verificar se haviam respondido pesquisas de satisfação da empresa. Eles eram instruídos a fotografar o celular do cliente como comprovação. Em alguns casos, Ana pegava o aparelho do aluno e ela mesma respondia o questionário, configurando, segundo a denúncia, manipulação de resultados.
CANAL DE 'DENÚNCIAS'
O professor afirma ter recorrido à ouvidoria da empresa, denunciando o caso diretamente à direção. No entanto, apenas uma conversa rápida de menos de três minutos com um gerente regional teria ocorrido, sem providência concreta. Posteriormente, ele recebeu uma nova advertência por atraso de cinco minutos.
Com o agravamento da situação, o professor buscou tratamento psiquiátrico e psicológico, sendo diagnosticado com crises de pânico, conforme laudos anexados ao processo.
Ele afirma que a cultura da empresa não condiz com os valores de "diversidade e inclusão" que a rede Smart Fit diz promover publicamente.
PEDIDO JUDICIAL
A defesa do professor solicita a rescisão indireta do contrato de trabalho, com base no artigo 483 da CLT, alegando rigor excessivo, descumprimento contratual, ofensas à honra e redução salarial injustificada. A ação requer ainda o pagamento de verbas rescisórias, FGTS, seguro-desemprego e indenização por danos morais no valor de R$ 400 mil. "Os fatos demonstram uma cultura institucional de assédio moral, disfarçada sob uma imagem de modernidade e inclusão", afirma a petição. "Não se trata de um caso isolado, mas de um modus operandi tolerado e incentivado pela hierarquia empresarial".
O QUE DIZEM AS ACUSADAS
Até a publicação desta reportagem, as empresas rés não haviam se manifestado oficialmente sobre o processo. A equipe jurídica da Smart Fit e da unidade local RRI Jardim dos Estados será intimada a apresentar contestação no prazo legal. O caso segue em trâmite na Justiça do Trabalho de Campo Grande.
A reportagem do MS Notícias telefonou para Felipe do Carmo, ele atendeu a ligação, porém não falou nada ao telefone. Ana também foi procurada por telefone, mas as ligações não completaram. Enviamos mensagem solicitando posicionamento da gerente e do diretor de operações, e o espaço segue aberto para inclusão de futuros posicionamentos deles.
O processo é público e pode ser ado pelo número 0024768-16.2025.5.24.0003 nos sites do judiciário do trabalho sul-mato-grossense.